A PORCELANA NO COMÉRCIO LUSO-CHINÊS

Padre Manuel Teixeira

Antes dos portugueses


  A porcelana chinesa era conhecida na Europa antes dos contactos dos portugueses com os chineses. A primeira referência à porcelana fora da China aparece em 1174, em que Saladino enviou 40 peças ao reconquistador da Síria. Os inventários dos Duques de Normandia (1363) e de Jean de Berry (1416) referem-se à cerâmica chinesa. O Sultão do Egipto ofereceu ao Duque de Veneza, Pasquale Malipiero (1461) e a Lourenço de Medici (1487) grandes vasos de porcelana. Uma das mais antigas peças na Europa é a “Jarra Gaignières”, que pertenceu a Luís, o Grande, da Hungria (1348-82), que lhe foi oferecida por Carlos Ⅲ, de Durazzo. Na Biblioteca Nacional de Paris conserva-se uma aguarela desta jarra, feita por Gaignières aí por 1713. Hoje essa jarra encontra-se no Museu Nacional da Irlanda, em Dublim. Note-se que Marco Polo (1254-1324), nas suas viagens durante 17 anos, percorreu a China, onde já antes haviam penetrado expedições missionárias e comerciais, sendo recebidas por Kublai Khan. Marco Polo regressou à Europa em 1295 e é de crer que levasse consigo mercadorias da China, sobretudo porcelanas. Na China visitou uma fábrica de porcelana, dizendo ele que a porcelana “era exportada para todo o mundo”. Na China, durante a dinastia Yuan (12801368) era fabricada porcelana azul e branca.

Vasco da Gama e a porcelana no séc. X V


  Vasco da Gama chegou a Calicut em 1498. Comprou grande quantidade de porcelana, pagando-a pelo seu peso em prata; recebeu ainda do sultão vários presentes, tais como “50 sacos de almíscar, seis bacias de porcelana e outros seis jarros de porcelana” (1)e obteve permissão de construir uma feitoria num local antes ocupado pelos chineses quando visitavam Calicut e a índia; o povo da região chamava a esse local “Chinamacota”. Em Lisboa, Vasco da Gama ofereceu a D. Manuel os presentes de Calicut e outra porcelana que ele ali adquiriu. Desde logo a Corte de Lisboa se interessou pela porcelana.

Porcelanas de Pedro Álvares Cabral


  A segunda armada de 13 navios bem armados largou de Lisboa a 9 de Março de 1500 sob o comando de Pedro Álvares Cabral; levou artigos comerciais para trocar por produtos orientais. Cabral fezo seu comércio em Cochim, Cananore e Calicut. Regressando em Julho de 1501, encontrou um navio do Rajá de Cambaia, que lhe ofereceu presentes, tais como porcelana, damasco e cetim chineses e um moço e uma moça chineses, vestidos de seda e muito lindos. Cabral perdeu quatro navios e multas vidas, mas levou para Lisboa produtos naturais e artigos manufacturados do Oriente: mirra, incenso e pérolas do Golfo Pérsico, indigo, mastique (a]micega), sândalo branco, diamantes e muita pimenta da índia; ópio de Bengala; cinamomo e sândalo vermelho de Ceilão; âmbar da Birmânia, rubis da Birmânia e do Sião, noz moscada, cravo e bambu das Ilhas das Especiarias; e cânfora, cássia, madeira de aloés, gengibre fresco e seco, laca e porcelana da China. De todos esses artigos o mais apreciado em Portugal foi a porcelana. Em 1505, dias depois do regresso de Cabral, D. Manuel escreveu a D. Fernando e D. Isabel de Espanha (cuja filha ele la desposar em breve) a informar acerca dos chineses e da porcelana; os chineses “são homens brancos com belos olhos verdes. Há lá finos vasos de porcelana, de forma que um só vale cem cruzados”. Quanto à porcelana, não há nada a dizer; quanto aos olhos verdes, parece que o rei quis esconder a verdade, não dando exacta informação ao rei de Espanha.

Contactos com chineses na índia e em Malaca


  Afonso de Albuquerque ordenou ao feitor de Cochim que entregasse 1500 réis a um chinese para que ele fosse a Lisboa falar com D. Manuel, chinese esse que ele levara consigo de Malaca para Cochim. O facto é que D. Manuel possuía porcelana chinesa. Na colecção de José Cortes em Lisboa, figura uma jarra azul e branca, de 26 cm de altura, ostentando decoração chinesa e a esfera armilar. A marca dessa jarra é do imperador Hsuan Tê(1426-35), mas é provavél que fosse inscrita mais tarde; esta jarra deve ter sido feita no reinado de Cheng Tê (1506-1521) da dinastia Ming. Em 1505, D. Manuel fala da China, “donde vêm jarras grandes e bonitas”. Não havia ainda contactos directos com a China. Em 1508, D. Manuel manda Diogo Lopes de Sequeira “descobrir Malaca e perguntar pelos chineses”. É que iam anualmente comerciar a Malaca oito a dez juncos chineses, levando almíscar, damasco, cetim, cânfora, ruibarbo, etc., que ali trocavam por pimenta e cravo. Ali afluíam as riquezas do Oriente, como bem diz Camões:
  “Malaca por empório enobrecido,
  Onde toda a província do mar grande
  Suas mercadorias ficas mande.”
  Sequeira chegou a Malaca em 1509, mas a sua missão fracassou por intrigas dos moiros. No entanto, entrou em contacto com os chineses, sendo o principal deles um tal Cheita, que lá voltou em 1513.

Contactos directos com a China


  O capitão ou governador de Malaca, Rui de Brito Patalim, mandou logo à China nesse mesmo ano o Capitão Jorge Álvares com um feitor e um escrivão para comerciar. É isto que ref-ere Patalim, em carta de 6 de Janeiro de 1514, a D. Manuel:“Vieram aqui este ano passado quatro juncos; nom traziam mercadoria senam muyto pouca; vinham como d’armada a ver a terra. Vinha por capitão d’eles o Cheilata, velho chim que aqui achou Diogo Lopez de Sequeira; tornou-se contente com conselho do bendara(2)d’esta cidade e ofícios. Foy la hum junco de Vossa Alteza carregado de pimenta, a metade por Vossa Alteza, e outra metade pelo bendara; aguardo cada dia por ele; foy a bom recado; e com ele foram cinquo daqui. No de Vossa Alteza eram dous homens nossos, hum por feitor e escrivam outro”(3). A 7 de Janeiro de 1514, quatro oficiais de Maluca "(4)escreveram a D. Manuel a dar-lhe a mesma nova; “Partiu daqui um junco para a China, de vossa alteza, em companhia doutros que iam lá também a carregar, ha a fazenda delle, a metade sua, e a metade bendara uma chatu(5), e assi de permeio os gastos que tem feitos e se fizerem agora, daqui a dous meses ou tres esperamos por ele, que venha carregado e rico, porque não há razão para vir doutra maneira”(6). Os produtos que os portugueses levavam para a China provinham da índia e Ceilão: pimenta, cordamono, gengibre, canela, cravo, tecidos de algodão, etc..; na China, eram trocados por sedas, porcelanas e outras mercadorias; mais tarde, o Japão forneceu ouro e prata, com que se compravam as mercadorias chinesas em Cantão. Um dos motivos que atraíam os protugueses à China eram as procelanas, segundo se l^e num documento dessa época que informa: este era “uma província mui grande, segundo se diz, abastada de todos os géneros de mantimentos que se podem pedir, e assim todas frutas que há em Espanha; h'a nela multas minas douro, prata e de todos os outros metais, cria-se nela muita seda mui fina de que fazem damascos, cetins, veludos, tafetás, brocados e brocadilhos, ruibarbo, canfora e concha muito fina, azouge, procelanas”(7) Cardim escrevia a D. João Ⅳ:“Sem o comercio da China não India……Sendo assim, valia a pena lançar-se aos mares nunca d’antes navegados, buscando a China, apesar de furiosas tormentas e outros perigos que tão aparelhados a quem adversa sorte toma terra ou portos tão estranhos” (Faria e Sousa, Ásia Portuguesa, Porto, 1945, vol. Ⅱ, p. 23) Rafael Perestrelo visitou Cantão em 1515 e no ano seguinte regressou a Malaca“com grande riqueza, porque fez de proveito de um para vinte e a terra com muita paz e os chineses muito boa gente”(8). Em 1517 Fernão Peres de Andrade levou à China o embaixador Tomé Pires e lá o deixou ficar. Em 1519, foi à China seu irmáo Peres de Andrade, que ofendeu os chineses, raptando algumas crianças e levantando em Tamão (9)uma forca, onde enforcou um marinheiro. Quando morreu o imperador Cheng-Tê a 27-1-1522(10), os portugueses recusaram interromper o negócio durante o período de luto. Nesse ano de 1522 chegou à China a armada de Martinho Afonso de Melo. Ele foi atacado, sendo morto seu irmão, sendo grandes as perdas de ambos os lados. Esse ano de 1522 foi fatal. O comércio tornou-se ilegal e passou a contrabando; mas esse contrabando levava muita porcelana para Portugal, onde era vendida por altos preços. É que se cria que a porcelana rachava no caso de conter veneno. O contrabando fazia-se ao longo das costas de Fujian e Zhejiang, onde os mandarins eram menos rigorosos que em Cantão. Antes da fundação de Macau em 1557, os portugueses foram estabelecendo postos comerciais em vários portos da China: Liam-pó ou T’ ien-pó, Chincheo ou Tch’un-Tchau, Lampacao e Sanchoão. Os capitães dos navios portugueses, os nobres e a alta hierarquia da Igreja tomaram gosto à porcelana chinesa e mandaram gravar os seus nomes ou os seus brazões nas porcelanas. Os jesuítas mandaram gravar motivos religiosos. Perderam-se quase todas, restando pouquíssimas. As mais antigas são as de Pero de Faria, que foi duas vezes capitáo ou governador de Malaca (1526-1529 e 1539-1542); deste capitão restam duas malgas de porcelana, uma no Museu Duca da Matino em Nápoles, decorada com os símbolos do rei D. Manuel e outra no Museu de Arte Antiga de Lisboa. Estas malgas de Pero Faria são de estilo ibérico, a malga com asas horizontais projectadas do rebordo; as inscrições são muito interessantes, pois que nos revelam a devoção que esses comerciantes tinham à SSma. Virgem:“Ave Maria gracia Plena Em tempo de Pero de Faria 1541; uma tem as armas da família Abreu(11). Parece que estas malgas foram por ele encomendadas a Fernão Mendes Pinto, esse aventureiro extraordinário que percorreu Samatra, a Birmânia, o Sião e a China, penetrando nas cidades proibidas de Pequim e Nanquim. Os portugueses levaram a porcelana chinesa até à Persia, como se prova por uma garrafa azul e branca descoberta em Chehel Sotun, lsfahan, datada de 1552 com uma inscrição portuguesa. E não só; mas também em Gedi; perto de Mombaça foram descobertas peças de procelana; e ainda na área tumular em Marmbrui perto de Malindí, achou-se um pilar decorado com procelana azul e branca. Isto significa que à falta de outros artigos, Portugal razia trocas com porcelana nos mercados orientais.
  Em 1552, achava-se no porto de Sanchoão o comerciante Jorge ÁIvares, natural de Freixo de Espada à Cinta. Como os portugueses faziam ali o seu comércio com Cantão, Álvares encomendou a Cantão algumas porcelanas com o seu nome gravado. Ainda hoje existem três garrafas piriformes de porcelana azul e branca; uma conserva-se no Victoria and Albert Museum de Londres com uma inscrição portuguesa: O MANDOU FAZER JORGE ALVARES (552), e outra chinesa: Ta Ming Nin Tsao, isto é:“Feita no período de Grande Ming (Dinastia Ming) 1368-1644. Esta peça foi parar a esse Museu, via Istambul. em 1892. Isto indica que a porcelana portuguesa atingiu Constantinopla. Outra garrafa de Jorge ÁIvares foi oferecida por Antunes de Carvalho e Silva ao Museu do Caramulo, fundado pelo Dr. Abel de Lacerda; tem na base uma inscrição chinesa que diz:“Que uma infinda boa sorte acompanhe todos os teus empreendimentos”. Este pensamento não é da autoria de Álvares, pois é típicamente chinês. A terceira garrafa figura na “The Walters Art Gallery” de Baltimore(12). O italiano Francisco Carletti, que fez uma viagem de 1594 a 1604 pelo mundo e esteve em Macau de 15 de Março de 1598 a 28 de Julho de 1599, diz que porcelana branca com a borda azul é a mais preciosa que se vê ordinariamente. Por meio dos jesuítas ele comprou a melhor porcelana que podia obter. Não só em Portugal, mas também nalguns países da Europa, havia peças de porcelana. Henrique Ⅷda Inglatrra possuía uma malga de porcelana prateada. O imperador da Alemanha Carlos V (1500-58) possuía vários pratos com o seu monograma; seu filho, Filipe Ⅱ de Es-panha (1522-96) tinha uma colecção de 3000 peças. No Museu Princesschof de Leeuwarden, Holanda, há uma peça com motivos chineses na borda e as armas do rei D. Sebastião de Portugal (1557-87), repetidas quatro vezes. O centro é decorado com a roda budista, cercada de 4 leões a brincar com uma bola. Nota-se que os oitos símbolos budistas que figuram nas porcelanas são: a roda, a concha, o guarda-sol, o dossel, o Iotus, o vaso, dois peixes e o nó sem fim; às vezes aparece também o Bodhidharma. Era tão grande a procura da porcelana que um regulamento do porto de Lisboa de 1522 permitia que um terço da carga do navio fosse porcelana. Isto significava muita porcelana. Assim, por exemplo, a carraca(13)São Tiago, tomada pelos holandeses na costa de Santa Helena em 1602, levava alguns milhares de peças de porcelana. Parte dela pertencia ao Florentino Francisco Carletti que a comprara em Macau por intermédio dos jesuítas. Ele pôde adquirir fina porcelana azul e branca; ele confessa que os jesuítas também lhe forneceram grandes e lindas jarras que ele comprou por cerca de 165 reales espanhóis de prata. Carletti afirma um pouco exageradamente:“há tantas espécies que se poderia encher não um navio, mas uma esquadra”. Havia porcelanas só para uso do rei e estas eram decoradas a ouro; mas as mais lindas e mais comuns eram as porcelanas de azul e branco. Em 25 de Fevereiro de 1603, a carraca Santa Catarina, do comando do Cap. Sebastião Serrão, foi capturada no Estreito de Johore por Jacob Van Heemsherck com um junco de Macau, carregado de provisões para Malaca; a nau que, levava 700 pessoas, entre as quais 100 mulheres e crianças, foi levada para Amesterdão, onde a sua carga de mais de cem mil peças de porcelana foi vendida em leilão rendendo, três milhões e meio de florins. Devido a isso, a porcelana chinesa ficou sendo chamada Holanda Kraakporselein (porcelana de carraca).
  No Museu Metropolitano de Nova York figuram algumas malgas, oferecidas à Rainha Isabel I (1558-1603) pelo seu tesoureiro, Lord Burghley, em 1567 ou 1568. Parece terem provindo dos navios portugueses São Felipe e Madre de Deus, capturados pelos ingleses em 1567 e 1592 perto dos Açores. No Museu de Jacarta existem peças semelhantes, que parece serem parte das porcelanas de Malaca, levadas para lá em 1641, quando os holandeses tomaram esta cidade; as porcelanas de Malaca dispersaram-se e hoje existem apenas algumas peças intactas(14)

Macau e a porcelana


  Em 1554. o capitão-mor Leonel de Sousa fez com os chineses um tratado verbal; desde então o comércio deixou de ser contrabando e passou a ser legal, concentrando-se em Cantão; os comerciantes iam, a princípio, uma vez por ano e depois duas, à feira de Cantão. Se o ano de 1522 foi fatal para as relações comerciais luso-chinesas, o ano de 1554 foi providencial. Em vez de guerra, a paz. O próprio Leonel de Sousa escreve, a 15 de Janeiro de 1556, ao Infante D. Luís:“Desta maneira fiz paz; e os negócios na China com que todos fizeram suas fazendas e proveitos seguramente; foram muitos portugueses à Cidade de Cantão e outros lugares por onde andaram folgando alguns dias e negociando suas fazendas à sua vontade sem receberem agravo”(15) Em 1555, o P. Melchior Nunes Barreto visita Cantão, onde deixa o Irmão Estêvão de Góis, S.J. para aprender a língua chinesa; em 1556, volta lá para trazer esse Irmáo que caira doente. Em 1556, o P. Gaspar da Cruz visita Cantão e demora-se lá um mês. No seu “Tratado das Coisas da China”, descreve as pequenas lojas com diferentes artigos nas ruas principais de Cantão; nota que nem toda a procelana estava à venda; as peças vermelhas, verdes e douradas eram reservadas aos altos dignitários e as amarelas ao imperador. Durante o concílio de Trento, em 1562, D. Frei Barlomeu dos Mártires, arcebispo de Braga, disse:“Em Portugal nós temos artigos de faiança com multas vantagens sobre o ouro e a prata; eu aconselho os príncipes a comprar este material e deixar de usar prata. Nós chamamos-lhe porcelana. Vem da índia, mas é feita na China; o seu material é tão fino e translúcido que a sua beleza é tão grande como a do vidro ou alabastro. Às vezes têm decorações azuis que parecem ser um misto de alabastro e de safira. Naturalmente, é frágil, mas é também barata”. A porcelana tornou-se tão popular em Portugal que em 1563 o Arcebispo de Braga escrevia ao Papa;“Em Portugal, temos uma espécie de serviço de porcelana que, sendo cerâmica, é superior à prata em beleza e pureza e parece tão do gosto de pessoas de alta que elas não usam nada mais à mesa, banindo inteiramente a prata o.(16) Nos fins do reinado do imperador Chia-Ching, aparecem serviços brazonados, de que restam algumas peças. Numa figuram as armas dos Sás ou família Peixoto e noutra as de Melo ou Almeida. Há ainda um prato com as armas de Matias de Albuquerque, vice-rei da índia, que faleceu em 1609; e um fragmento de outro semelhante, escavado em Ormuz, que parece ter feito parte dum serviço oficial feito para o mesmo Matias de Albuquerque, quando ele era vice-rei, em 1591.(17)Em 1580, havia em Lisboa meia dúzia de lojas que vendiam porcelana. Segundo os viajantes Tron e Lipporni, encontravam-se à venda, na Rua Nova, peças ordinárias de porcelana. Na Inglaterra de Isabel I e na França de Henrique Ⅳ, a porcelana era reservada para os banquetes régios. No entanto, os comerciantes portugueses vendiam toda a espécie de artigos exóticos, incluíndo porcelana, nas feiras de Saint Germain e de Saint Laurent, em Paris.

Descoberta do Japão


  O ano de 1543 é o Ano Áureo da descoberta do Japão ou Nippon, vocábulo que significa “país originado pelo sol” É o país, “onde nasce a prata fina”, como diz Camões nos Lusíadas. A descoberta não foi deliberada, mas por mero acaso. Em 1542, largaram do Sião para a China num junco chinês três comerciantes - António da Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto. Não podendo desembarcar em Cantão, seguiram para o norte e atingiram Chu’anchau, em Fukien, onde fizeram o seu negócio no mar com a conivência dos mandarins. Fizeram-se de novo ao mar, mas os ventos arrastaram o junco até Kanegashima, em 1543. Es-tava descoberto o Dai Nippon (Grande Japão), que andava nesse tempo em guerra (a Sengoku-jidai). A China proibia o comércio com o Japão e assim foram os portugueses os intermediários, levando para lá grande variedade de mercadorias. Macau ficou sendo o maior entreposto comercial no Extremo Oriente, pois todo o comércio com a China e Japão se fazia através de Macau. Cantão era o porto comercial da China e Nagasaki tornou-se o porto comercial do Japão. Agora o binómio “Cristãos e especiarias” passa a ser “Cristãos e prata”, de tal forma que a Nau da Carreira tomou o nome de “Nau de Prata”. Se Goa era a Cidade Dourada, Macau tornou-se a Cidade Prateada, de tal forma que há ainda aqui a Rua da Prata.

Nau do Trato


  Era a Nau da Carreira. Os japoneses deram-lhe o nome de Kurofoné (Navio Negro), devido provavelmente à cor preta do casco. Como trazia prata do Japão para Macau, chamava-se também a Nau da Prata. Era um grande Navio de 800 a 2000 toneladas, bem armado para se defender da pirataria holandesa. Saía de Lisboa e só parava na África Oriental, tocando num dos três portos, Moçambique, Zanzibar ou Mombaça, onde carregava marfim, chifres de rinoceronte e escravos; estes últimos eram vendidos em Goa por bom preço. Na índia, recebia téxteis de algodão para serem trocados por especiarias; em Ceilão, recebia cinamomo e pedras preciosas; em Malaca trocava estes produtos por pimenta, noz moscada, cravo, e sândalo das Molucas. De Macau, estes produtos eram levados à feira de Cantão que, depois de 1580, se realizava duas vezes ao ano, no inverno e no verão, sendo trocados por seda e porcelana. Demos agora a palavra ao Florentino Francisco Caretti:“Quando o Capitão de Nau da Carreira chegava de Goa a Macau, era ele quem govemava esta terra durante a sua estadia aqui e era ele que fazia o comércio com o Japão. Escreve Carletti:“~'e concedido a este capitão o privilégio de ele só, e não outros, durante aquele ano, aprontar uma nau para ir ao Japão, transportando as mercadorias que os habitantes da cidade lá mandam, as quais são compradas duas vezes ao ano, na cidade de Cantão, onde se fazem as feiras. Estas mercadorias são transportadas à índia Oriental no mês de Setembro e Outubro, e ao Japão no mês de Abril e Maio; estas últimas são, sobretudo, seda crua, da qual se transportam em cada viagem setenta a oitenta mil libras de vinte onças cada uma, que eles chamam “Cates”(18). Também transportam para lá grandes quantidades de despejamentos diversos e muito chumbo, valendo três escudos cada cem libras; e ainda prata pura e zarcão e grande quantidade de almíscar com suas vesículas, tudo o que se consome nestas partes entre este povos. Além disso, mandam para lá outras infinitas espécies de mercadorias, como drogas e pratos de porcelana de todos os tipos, sobretudo da mais grossa... O navio não se volta a ver em Macau senão ao cabo de oito meses, pois parte no mês de Junho da China e regressa no mês de Março. Mas com frequência volta a ver-se no mês de Outubro do mesmo ano, parte do comércio, que é transportado em navios que vão ao Japão para poder empregá-lo em mer-cadorias que mandam à índia Oriental, na feira do referido mês, que se faz, como dissemos, em Cantão (19). Em Cantão a transação da prata japonesa por seda e porcelana dava um lucro de quatro a dez vezes mais. A seda destinava-se aos mercados da índia, do Médio Oriente e da Europa. Os outros artigos, como jarras e pratos, eram para trocar nos portos de Champa Sião, Borneo e Indonésia. Os mais finos iam para a índia e Pérsia por meio do mercado de Ormuz. Parte ia também para a África Oriental, mas os melhores iam para o mercado de Lisboa”. Nas recentes escavações tem-se encontrado cerâmicas chinesas na Indonésia, ao longo do Rio Johar, no Malásia, onde tem aparecido grande número de porcelana azul e branca Uma garrafa branca foi encontrada em Chehel Sotun, Isfahan, datada de 1.552 com uma inscrição portuguesa. Foram também encontradas porcelanas em Gedi; perto de Mombassa e num túmulo de Mambrui, perto de Malindi, onde apareceu um pilar decorado com porcelana azul e branca. Kang Hsi proibiu o comércio estrangeiro, e esta proibição estendeu-se de 1717 a 1722. Como os chineses não podiam navegar para o estrangeiro nem os estrangeiros para a China, Macau ficou só em campo, fazendo comércio entre a China e as índias, incluindo a Indonésia. Os holandeses sofreram um tremendo golpe; a mercadoria principal de Batávia era a pimenta; esta e os produtos de cinamomo, âmbar, linho, chumbo, e sândalo eram trocados na China por porcelana, seda e chá. O chá era cultivado na China e no Japão e exportado para a Europa juntamente com a porcelana. Falharam as tentativas do cultivo de chá em Java. Ouçamos Ljungstedt:“Tinha o imperador Kang Hsi, em 1685, aberto a rodas as nações comerciais os portos do seu vasto império e permitido aos seus súbditos o livre exercício do comércio. Esta revogação de velhos costumes lançou um triste presságio sobre homens de espírito pusilânime. Um prefeito, o mandarim Tsun-Ping-le, tenente-general, denominado Chin-mao, redigiu um memorial em que pintava os europeus como gente de espírito irrequieto e ambicioso, e os chineses aventureiros que vinham do estrangeiro como sujeitos de patriotismo duvidoso; ora açambarcando estas classes grandes quantidades de arroz do país, o comércio livre era cheio de perigo. Sendo estes argumentos caprichosos ponderados por um tribunal competente, baixou um decreto de Kang Hsi no dia 10 da 11a. lua do ano 56 (1717) proibindo aos seus súbditos toda a comunicação com os países das partes da China do Sul. O mandarim de Heong-shan (distrito vizinho de Macau) intimou esta ordem a Macau. Uma delegação foi em 1718 a Cantão, patrocinada pelo jesuíta José Pereira; e o vice-rei, bem como o seu imediato deram-lhes permissáo para navegar nos mares do Sul; logo nesse ano foram enviados navios para Manila e Batávia. A concessão foi confirmada por K’ang Hsi, o qual, no ano anterior, havia feito a Macau, por meio do vice-rei de Cantão, o oferecimento de o constituir empório geral do comércio estrangeiro, devendo a cidade receber os direitos de todas as importações. Esta brilhante proposta foi rejeitada pelo Senado”.(20) Parece que Macau devia aceitar o privilégio imperial de o tornar o centro do comércio dos estrangeiros; mas o Senado rejeitou esta proposta porque importava a condição de se exercer no nosso território a fiscalização e a cobrança aduaneira das mercadorias estrangeiras, por parte dos chineses e não por parte dos portugueses, como erradamente afirma Ljungstedt. Como os chineses foram proibidos de navegar para o estrangeiro, o decreto imperial de 1717 veio arrancar Macau da sua penúria e trazer-lhe uma euforia comparável aos tempos aúreos do comércio com o Japão.

A porcelana chinesa durante a dinastia Ming


  O primeiro imperador desta dinastia foi Hung-Wu nascido em 21-10-1328, entronizado em 23-1-1368, morto a 24-6-1390; o último foi Yung-li que reinou de 5-2-1647 a 1661. Os portugueses chegaram à China no reinado de Cheng-te(24-1-1506- a 27-1-152:;)). Devido às incursões dos piratas japoneses (Watku) nesse período, os Mings proibiram a navegação chinesa para o exterior. Isto favoreceu os portugueses que ficaram os intermediários entre a China e o exterior, sobretudo o Japão. A porcelana exportada era, sobretudo, de azul e branco. O azul tornou-se a moda da corte Ming, atingindo por isso um alto grau de perfeição. Esta porcelana foi fabricada sobretudo durante os reinados de Hsuan-Te (8-2-3426 a 17-1-1436) e Ch’eng Hua (27-1-1465 a 33-3-1488). As do primeiro reinado são as mais belas porcelanas de azul e branco; os motivos usados na decoração eram dragões, peixes, plantas aquáticas, peonias, a floração estilizada de lotus e as nuvens, juntamente com símbolos budistas e figuras humanas. No reinado de Cheng-Te (24-1-1596 a 27-1-1522), em que os portugueses chegaram à China, as porcelanas, despachadas para a Europa, tinham decorações de crianças a brincar e também inscrições árabes e persas. O imperador Chia-Ching (28-1-1522 a 8-21567), que era fervoroso taoísta, ordenou decorações com símbolos taoístas, tais como o símbolo da longevidade, os oito imortais e os seus símbolos(21). Nos fins deste reinado, os pintores das fábricas privadas deixaram as decorações oficiais da corte e começaram a servir-se das ilustrações dos livros como modelos para o seu trabalho. Este estilo Naturalista aparece, sobretudo, no chamado Período de Transição (1620-82). Durante a dinastia Ch’ing (16441911 ), a porcelana atingiu o mais alto grau de perfeição. Os imperadores K’ang Hsi e, sobretudo Ch’ien Lung, foram aperfeiçoando a porcelana Sung e Ming tão fielmente que às vezes é difícil distinguir o original da cópia. Devido ao interesse de ch’ien Lung, as fábricas de Chingte-chen foram aumentadas e floresceram devido às multas encomendas. No séc. Ⅹ Ⅷ, o azul e branco cedeu lugar à família rosa,; esta mesma veio suplantar a família verde, que havia sido tão popular nas duas últimas décadas do sec. Ⅹ Ⅵ; a família rosa veio em breve conquistar os mercados chineses e europeus. A variedade de desenhos e das cores e os objectos pintados com os mais delicados pormenores tornaram-se notáveis e atraentes; mas no decurso do séc. Ⅹ Ⅷ, estas decorações perderam a sua frescura e a sua força. As decorações das porcelanas da dinastia Ch’ing dividem-se em dois grandes grupos: O chinês e o estrangeiro, mas neste segundo aparecem também motivos do primeiro. Encontram-se também decorações do Período de Transição e do reinado de Kang Hsi e do séc. Ⅹ Ⅷ, baseados em histórias de espíritos, sagas, lendas, mostrando os heróis de outrora, cenas de procissões ou audiências, dadas pelos imperadores ou altos dignitários. No reinado de Ch’ien Lung, as decorações baseavam-se em bronzes arcaicos, frequentemente com dragões. Aparecem também senhoras chinesas de corpos finos e delicados, com ou sem filhos, a divertir-se com aves e borboletas; Vêem-se ainda flores e animais e poemas de amor e de intriga. Quanto às formas, no princípio da dinastia Ch’ing tomavam ainda por modelo as de Ming; mas, no decurso do séc. Ⅹ Ⅷ, as formas tonaram-se mais elegantes, delicadas, e amaneiradas. Quanto à porcelana azul e branca, atingiu o seu zénite no reinado de K’ang Hsi, destinada, sobretudo, à exportaçáo para a Europa. Aparecem figuras, animais, paisagens com árvores e flores, sendo mais bem desenhadas do que na dinastia Ming. As outras decorações mais comuns são: um chinês, ou melhor, manchu, montado num cavalo com a sua esposa a caçar coelhos; os Oito Imortais, sentados, ou de pé, nas nuvens, na sua viagem para as Ilhas dos Bemaventurados (22), onde cresce o lingchih (fungo sagrado da longevidade). No reinado de K’ang Hsi, as travessas e pratos eram também decorados com árvores, arbustos e flores. Outras decorações são: um rio com plantas aquáticas, o interior duma casa, símbolos budistas ou flores. Nos fins do reinado de K’ang Hsi e sob os seus sucessores, Yung Cheng e Ch’ien Lung, foram fabricadas elegantes porcelanas sob o control real. A porcelana exportada nestes reinados assemelha-se nas suas decorações à de K’ang Hsi; mas a porcelana posterior é inferior, sendo grosseira e pesada. A família rosa do reinado de Yung Cheng é de alta qualidade; mas, depois de 1740, perde a frescura e elegância anteriores. O imperador Ch’ien Lung interessava-se muito pela porcelana da família rosa, especialmente por aquela que era decorada com o galo; ele compôs até poemas sobre o assunto. A Europa também influenciou a porcelana chinesa. Os chineses gostaram muito de relógios e miniaturas europeias. O imperador Ch’ien Lung recebeu de presente serviços de jantar de porcelana de Sévres. Os jesuítas Gherardini, Attiret e, sobretudo, o grande pintor Castiglione influenciaram muito a arte chinesa; diz-se até que este pintou em porcelana. Quanto às porcelanas da família negra, as melhores são as do tempo K’ang Si. No decurso do séc. Ⅹ Ⅵ e, sobretudo, no séc. Ⅹ Ⅷ, aparecem os pratos redondos em forma de polígono, designados pelo vocábulo português de “cuspidor” que eram exportados da China para a Europa; alguns eram decorados em azul e branco e, desde o tempo de Yung Cheng, da família rosa.

O fabrico da procelana segundo os nossos missionários


  O primeiro é Frei Gaspar da Cruz, O.P., que visitou Cantão em 1556 e ali viu a porcelana. Dizia ele que era de barro ordinário, usado através da índia; havia duas espécies, uma grosseira e outra fina; alguma não se podia normalmente pô-la à venda; pois só aos altos dignitários era permitido usá-la devido à sua côr vermelha e verde, dourada e amarela; alguma desta, muito pouca, era vendida mas apenas clandestinamente. Entre os portugueses, que não haviam entrado na China, havia multas opiniões sobre o local onde era fabricada e que material usavam. Como eles não haviam sido informados da verdade, o Pe. Cruz dizia que era conveniente dizer-lhes de que material era feita, segundo a verdade expressa por aqueles que viram a sua manufactura. A porcelana básica é uma rocha branca e mole; alguma é vermelha, mas esta não é tão fina e é uma espécie de barro duro. Depois de este material ter sido esmagado, é colocado em tanques de água pura, feitos de pedra; e depois de coberto com água, a porcelana mais fina é feita do creme que se forma na superfície da água; a camada mais baixa é mais grosseira; e é deste barro que se faz a cerâmica para a gente mais pobre da China. A porcelana é feita primeiramente deste barro, do mesmo modo que se fazem outros artigos de olaria; depois de se lhe dar a forma, é secada ao sol; a seguir, é pintada conforme o gosto. Quando a pintura está seca, a porcelana é polida e depois cozida”(23). Álvaro Semedo, S.J., ao descrever a província Kiansi, diz: Esta província é célebre pelos solhos enormíssimos e ainda mais pela sua porcelana; na verdade, única no seu género; que se encontra apenas numa sua vila (Keng Tak Tchan), de forma que, quanta se consome no reino e se distribui por todo o mundo, provém desse lugar. Não se encontra, porém, o barro com o qual é feita, vindo este doutro sítio, mas existe a água com que é precisamente fabricada para se conseguir a sua perfeição, pois que se for feita com outra, a obra não adquire tanto brilho... simplesmente feita de barro, porém, de uma qualidade pura e excelente. Fazem-se em tempo igual e da mesma forma que os nossos vasos de barro. Apenas a fabricam com mais diligência e primor. O azul com que pintam a porcelana é o anil que abunda. Algumas são pintadas de vermelho e, para o rei, de amarelo”(24). Frei José de Jesus Maria, O. F.M., que viveu em Macau de 1742 a 1745, diz que as duas províncias de Kiansi e Kiangnan contribuem para a excelência da porcelana; esta última, apenas com barro, ao passo que a primeira com o trabalho, em que os seus habitantes são especialistas com esta água excelente, que é a única para esta espécie de obra; daqui a água é enviada para a outra província, onde é polida e pintada e, finalmente, cozida de novo de modo a tornar-se perfeita. E então enviada para a província de Cantão, que é o porto principal e onde os navios estrangeiros fazem o seu comércio” (25).
  (1)Gaspar Correia, Lendas da Índia, vol. Ⅰ
  (2)Bendara, ou melhor Bendahara, era o mais alto título malaio, logo abaixo do sultão; parece que vem do sânscrito bhândârika, que significa tesoureiro. Albuquerque conservou em Malaca os títulos e os cargos que lá encontrou. O bendahara era Nina Chatu (vide Nina Chatu and the Portugueses Trade in Malaca,, by Dr. Luis Filipe F. Reis Thomas, Malcac 1991). 
  (3)Alguns documentos do Archivo Nacional da Torre de Tombo,. Lisboa, 1892, p. 225.
  (4)Eram: Pero Salgado, Tomé Pires, Garcia Chaim e Pero Pessoa.
  (5)Deve ser:“do bendara Nina Chatu”. Este era sócio dos portugueses no comércio. A 6 de Fevereiro de 1514, D. Manuel nomeou Nina Chatu governador dos Kaffirs, (gentios de Malaca) ou seja, de todos os habitantes que não eram cristãos.
  (6)Cartas de Affonso de Albuquerque, Tomo Ⅲ, p. 90.
  (7)Castanheda, História do Descobrimento e Conquista, etc., vol Ⅱ, livro Ⅳ, cap Ⅹ Ⅹ Ⅶ, p. 422.
  (8)Gaspar Correia, Lendas da Índia, vol Ⅱ, p. 473.
  (9)Tamão, Tamon ou Tamang vem do chinês Tôn-Mun (cantonês, que em pequinense se diz Tuan Man ou T’uan Man; foi identificada por Jack Braga como sendo a ilha de Lintin. Os portugueses deram-lhe o nome de ilha de Veniaga, vocábulo derivado do malaio beniaga (mercado ou local de troca).
  (10)Cheng-Tê ou Zhende nasceu a 26-10-1491 e reinou de 24-1-1508 a 27-1-1522; sucedeu-lhe Chia-Ching ou Jiajing (1522-1562).
  (11)Há vários com o nome de Abreu; um deles, António de Abreu, foi a Malaca em 1511, a seguir foi com Jo~~eo Sertão descobrir as Ilhas da Indonésia, regressando depois a Malaca.
  (12)Vide “Garrafas Chinesas de Jorge Álvares”, por Luis Reis Santos, in “Belas Artes”, Revista e Boletim da Academia Nacional de Belas Artes, 2a. serie, n°. 18, Lisboa, 1962, p. 59-69.
  (13)O termo carraca (caracca em italiano e espanhol) carrak (em inglês) deriva do árabe caraquir (navio mercante); há ainda o termo árabe harraca (barco pequeno).
  (14)Os Descobrimentos, etc. p. 233-40.
  (15)P. M. Teixeira, Macau e a sua Diocese, vol. Ⅰ, p. 63 e 64.
  (16)Os Descobrimentos, etc. p. 74.
  (17)Ib, p. 244.
  (18)O Cate, Catty, Kati ou Katty equivalia a 11/3 de libra inglesa; 100 cates faziam um “pico”. Em 1637, Peter MundO,, que estava em Macau, dizia que se usavam aqui duas espécies de cates: uma de 16 ta~is ou 201/2 onças; outra, de 18 taeis ou 23 onças“, pelos quais eram pesadas todas as comodidades grossas e a seda.” Note-se que 1 tael eorrespondia a 10 mazes ou 100 condorins. (cf. Boxer, The Great Ship from Amacon, Lisboa, 1959, p.340).
  (19)Cf. P.M. Teixeira, Maeau através dos séculos, in “Boletim do Instituto Luis de Camões”, vol. Ⅺ, n°s.2 e 3. D
  (20)Cf. P.M. Teixeira, Macau no séc. Ⅹ Ⅵ Ⅱ, n°185-6.
  (21)Longevidade (Sau-Longa vida), cujo símbolo é de um velho de longas barbas e bigodes e todo careca. Os Oito Imortais e os seus simbolos são: 1. Chung-li Ch’uan, representado por uma ventoinha e uma espada; 2. Lu Tung-pin, espada; 3. Li T’ieh Kuai, mendigo com uma moleta, de ferro e uma cabaça; 4. T’sao Kuo-Ch’iu, com castanholas, pois é protector dos actores; 5. Lan Ta’ai-ho, numa figura masculina ou femenina com um sacho e uma cestinha de flor; 6. Chan Kuo-lao, montado numa mula branca e segurando o Yuku, instrumento musical consistindo dum tubo de bambu e duas varinhas; 7. Han Hsing Tzu (divindade da música) um jovem com uma flauta; 8. Ho Hsien-Ku, divindade das esposas, com um lotus. Os Oito Imortais ou semi-deuses ou génios vagueiam pelo mundo para reformar o género humano.
  (22)Supunha-se que essas ilhas ficam ao longo da costa da província de Kiangsu.
  (23)P. Gaspar da Cruz, Tratado das Coisas da China.
  (24)P. Álvaro Semedo, Grande Monarquia da China, p. 44-45.
  (25)Frei José de Jesus Maria, O.F.M., Azia Sinica e Japonica, vol. Ⅲ.