Internacional



Dioxinas??

Cristina Correia*


  No final do mês de Maio do corrente ano, a Bélgica é confrontada com a contaminação da carne de galináceos e ovos por dioxinas e compostos relacionados. Há uma quebra do consumo de manteiga, chocolates, ovos, etc.. O caos esta lançado. A presumível causa deste incidente deve-se à utilização de óleo contaminado, proveniente da fritura de batatas fritas, na produção de ração de animais. Este acidente evidencia a falta de controlo de qualidade por parte de fornecedores de óleo e gordura e produtores de rações para animais, bem como uma defeituosa fiscalização das entidades governamentais.
  A discussão do presente caso sai do âmbito deste artigo, que apenas pretende ter um carácter informativo. Mas, afinal o que são dioxinas? Como se originam, e quais os seus efeitos? Estas serão possivelmente algumas das questões mais frequentes que rapidamente emergem.
  O termo dioxina refere-se a um conjunto de 75 compostos, que têm na sua constituição benzeno, cloro e oxigénio. Para a sua formação é necessário estarem presentes estas substâncias, além de existerem as condições adequadas que genericamente podemos considerar semelhantes às da combustão.
  Inicialmente as dioxinas foram descobertas como um sub-produto da manufactura de pesticidas. No entanto, a sua toxicidade só foi evidenciada aquando da ocorrência de acidentes, em que grandes quantidades de dioxinas foram emitidas. Um exemplo, foi o sucedido em Seveso. Devido a uma fuga de um reactor sobreaquecido libertou-se uma nuvem de compostos tóxicos entre os quais dioxinas. Dentro das principais fontes de emissão artificial de dioxinas podemos citar a incineração doméstica e municipal, de lixo químico e hospitalar, indústria metalúrgica, processos de síntese, uso de PCB1 (anterior aos anos 80), queima de combustível e óleos usados, processos de produção/reciclagem de vidro, PVC2, papel e aço. A indústria de cloretos, embora já tenha sido considerada uma das maiores fontes de dioxinas, actualmente contribuem apenas com 0.1% do total de emissões. A quantidade de dioxinas emitidas para o ambiente depende das características de funcionamento das incineradoras em questão. A partir de certas temperaturas, superiores a 800 ℃,as dioxinas são destruídas.
  Assim fontes de combustão que trabalhem a temperaturas baixas, como incineradoras municipais são mais nocivas do que as incineradoras dedicadas a este fim e do que os altos fornos de cimenteiras.
  Como principais fontes naturais de emissão de dioxinas podemos mencionar os fogos e a biodegradação da madeira. Da degradação da madeira por alguns fungos (cujos géneros mais demonstrativos são Hyfiholoma, Mycena, Bjerkandera) resultam compostos clorados que, em contacto com o peróxido, facilmente originam dioxinas.

Perigos para a saúde pública


  As dioxinas e compostos relacionados constituem uma ameaça considerável para oambiente e saúde pública, relativamente a outros compostos tóxicos, devido a não serem facilmente perecíveis. A grande estabilidade e longos tempos de vida destes compostos tornam a sua eliminação praticamente impossível. As dioxinas acumulam-se ao longo da cadeia alimentar (bioacumulação) e não são eliminadas pelo organismo, sendo a sua acumulação progressiva. A incorporação de dioxinas ocorre 90-95% através da ingestão de produtos alimentares contaminados. Só uma percentagem diminuta tem acesso através do sistema respiratório. Os produtos alimentares mais contaminados são essencialmente a carne vermelha, peixe, e produtos desidratados. Uma vez que as dioxinas se acumulam preferencialmente nos tecidos gordos dos seres vivos, é de evitar a sua ingestão.
  Os efeitos nocivos das dioxinas dependem do grau de exposição e concentração a que um indivíduo está exposto mas, segundo a Agência de Protecção do Ambiente dos EUA, não está estabelecido um nível de segurança para o qual a exposição a dioxinas seja segura.
  A primeira doença descrita (1897) associada à exposição de dioxinas foi Cloracne. Os sintomas (erupções cutâneas e postúlas) surgiam em trabalhadores de fábricas de pesticidas e podiam permanecer por um longo período de tempo. Actualmente, as dioxinas parecem estar envolvidas no desenvolvimento de cancros, diabetes, distúrbios de ordem sexual, como a diminuição de uma hormona masculina (testosterona), doença do útero (endometrioses), além de provocar danos no sistema imunitário.
  Como já foi mencionado a acumulação de dioxinas é um problema ambiental sério. Mas,que alternativa temos disponível?
  Uma grande controvérsia tem sido gerada na opinião pública em redor do problema das dioxinas e incineradoras. Na Bélgica, embora tenham sido propostas a utizaçâo de incineradoras e altos fornos de cimenteiras, não foi tomada ainda uma decisão. Além da tentativa de redução do uso de compostos que potencialmente originam dioxinas, mais medidas de prevenção e protecção deveriam ser efectuadas, uma vez que estes compostos são dificilmente eliminados. Uma possível alternativa é a utilização de incineradoras ou fornos de cimenteiras cuja temperatura de combustão seja controlada (constante e homogénea) dentro de um intervalo de temperatura bem definido. O controlo de qualidade do ar nas proximidades será indispensável. A diminuição do consumo de produtos alimentares contaminados poderá ser uma medida preventiva a ter em consideração.
  Além destas medidas, apenas podemos esperar que as entidades competentes e toda a comunidade estejam alertadas para o perigo das dioxinas e que portanto, sejam tomadas e cumpridas todas as medidas preventivas e protcctivas, de modo a evitar futuras contaminações.
  1 É um composto estruturalmente relacionado com dioxinas (policloreto de bifenilo)
  2 Trata-se de um plástico (policloreto devinilo)

   *Licenciada em Bioquímica