Crónica



A propósito de Mangais

Chan Do*

  Na manhã de um domingo do passado mês de Junho encontrei acidentalmente, junto à Casa-Museu, de estilo português, na Taipa, um antigo colega, conhecido de há muitos anos, que ali estava a passar algum do seu tempo livre, em companhia da sua mãe, esposa e filha. Depois de nos cumprimentarmos, o meu colega disse-me: "Perguntei a um colega que trabalha numa entidade pública, porque motivo os mangais não foram protegidos e desapareceram. A resposta foi que a área dos mangais sendo muito pequena não havia sido integrada nas áreas de reserva naturais classificadas pelas Organizações Internacionais, o que levou a uma degradação inevitável. Que pena!"
  


  Perguntei-lhe, então, o seguinte: "É, assim, tão importante a classificação internacional para a integração em áreas de reserva naturais ? Se aqueles que possuem os recursos não os protegem, a classificação internacional nada significa!"
  A protecção dos recursos naturais próprios não pode depender de elementos alheios. Se nós prestarmos a atenção devida, mesmo uma pequena área de mangais pode ser muito bem protegida, ao contrário, se não prestarmos atenção, até uma área enorme está definitivamente condenada a desaparecer.
  Lembrei-me da história acima referida quando o Eng. Ng Pak Meng, Director da Lótus, me convidou, há pouco tempo, para escrever um artigo sobre o Verde em Macau.
  O facto verificado testemunha que a defesa da protecção ambiental em Macau se iniciou mais tarde que nos territórios vizinhos. Quando o especialista de Hong Kong, Dr. Chao Siu Cheong, desenvolveu no território vizinho, no início da década de oitenta, a Campanha Verde, a maioria dos residentes de Macau não sabia o que era a protecção ambiental. Foram mesmo publicadas, na imprensa local, críticas a este respeito.
  Isto foi um acto muito lamentável!
  Ainda hoje a defesa da protecção ambiental, ao nível da população do Território, não está realmente generalizada. No entanto, foi criada uma instituição governamental - Conselho do Ambiente (Gabinete Técnico do Ambiente) - e deu-se, ainda, início à publicação de uma revista especializada. Tal situação é completamente diferente das experiências conhecidas no exterior, nas quais são as campanhas populares de protecção ambiental que promovem os actos governamentais.
  A protecção ambiental não compete exclusivamente a uma instituição ou entidade governamental, mas sim a toda a população. A protecção ambiental está relacionada com o futuro dos seres humanos e para que se realize convenientemente são precisos os esforços conjuntos do governo e da população.
  Em Hong Kong, passados mais de dez anos de esforços governamentais e populares, a protecção ambiental tornou-se uma corrente respeitada, sendo bem compreendidas e acolhidas as ideias sobre "alimentos verdes", "vivências verdes" e "vida verde". Pelo contrário, em Macau, este mecanismo eficaz composto pelo referido esforço conjunto, ainda não foi criado, o que é um outro facto lamentável.
  Nós não vivemos no Jardim de Éden!
  "O volume das águas residuais de Macau lançadas para o mar atinge quarenta milhões de metros cúbicos anuais, transportando milhares de toneladas de matérias orgânicas. As matérias venenosas que entram no alto mar através das zonas marítimas de Macau são calculadas em dez toneladas, para além das outras dez toneladas de fenóis orgânicos. Na zona marítima de Macau, os teores de carboneto orgânico, silicato, nitrato e fenol orgânico são relativamente altos."1.
  Nós temos de enfrentar muitos desafios no domínio da protecção ambiental, desde o estabelecimento de uma sensibilização ambiental, que é fundamental, até à alteração do modo de viva, passando por uma mobilização para a vida verde e pela diminuição do consumo e dos vários tipos de poluição. Tudo isto está à espera dos nossos conhecimentos e dos nossos actos.
  O desaparecimento definitivo dos recursos naturais dos mangais preciosos que possuíamos, produz influências profundas tanto no Território como a nível do Globo. Macau localiza-se no cruzamento das zonas temperada e tropical e dos hemisférios meridional e setentrional e a área de mangais constituía um paraíso para os pássaros que vêm, todos os anos, da Mongólia, Harbin, norte da China, de Kunming, sudoeste da China, ou da Rússia, Índia e Austrália. Nós não perdemos apenas aqueles mangais, perdemos também um oásis que existia no nosso coração, bem como a qualidade de vida.
  Quando se tornarão uma realidade, em Macau, os "esforços conjuntos" em defesa da protecção ambiental?
  
  *Jornalista.
  Este artigo foi traduzido por Wu Xinjuan.
  1 Lótus, Revista do Ambiente, nºs 6 e 7 ; "A Zona Marítima de Macau", Lei Kam Peng.