Internacional



Educação Ambiental na Austrália

Teresa Silva*

  A Austrália é um país-ilha-continente com uma área de 7.682.300 Km2 e extensão de costa de 25.760 Km. Sendo o sexto maior país do mundo (e o único a ocupar o seu próprio continente), a sua densidade populacional é relativamente baixa, apenas 2 hab/Km2.
  Existem no país quinhentas reservas e parques naturais protegidos (incluindo florestas tropicais, desertos, zonas de dunas na costa e cadeias montanhosas). Cada um dos sete estados gere os seus parques naturais e zonas protegidas, mas os princípios orientadores de política ambiental, emanados do Governo central, são idênticos para todos.
  As cidades de dimensão média (20 a 30 mil habitantes) estendem-se por grandes áreas, visto que a esmagadora maioria das pessoas vive em casas de um ou dois pisos, rodeadas de jardins. As zonas de plantações (cereais, vinha, pomares, etc.) e de pastagens ocupam áreas enormes, que foram conquistadas à floresta, desde o início da ocupação do país pelos europeus, em começos do Séc. XIX. Só se encontram prédios altos nas grandes cidades (como Sydney e Melbourne).
  Uma viagem à Austrália pode ser uma boa oportunidade para observar e aprender com os exemplos de acções de protecção da natureza e de melhoramento das condições ambientais, nas comunidades urbana e rural.
  Sem ser preciso procurar muito, a informação neste domínio encontra-se à disposição da população e dos turistas, um pouco por toda a parte, oferecendo um leque variadíssimo de propostas de iniciativas colectivas e individuais, em que cada um é chamado a contribuir de forma entusiástica e mesmo lúdica, na aplicação de medidas práticas, simples e eficazes.
  

Educação e Informação


  Para além de inúmeras campanhas educativas nacionais, dedicadas na sua grande parte à população estudantil e coordenadas pelo organismo estatal com responsabilidade no âmbito do Ambiente (EPA - Environment Protection Authority), encontram-se em circulação inúmeros folhetos e boletins de divulgação sobre questões e problemas ambientais, que se destinam indiscriminadamente ao grande público (ou seja: os dezoito milhões de australianos e os cerca de três milhões de visitantes anuais). Esta informação encontra-se disponível em postos de informação turística nas cidades, na entrada dos parques naturais, nos bancos, nos museus, nos mais diversos tipos de lojas, centros comerciais, etc.),
  Sendo a Austrália o país do mundo com maior quantidade de desperdício por pessoa, à excepção dos EUA, eis um exemplo eloquente da preocupação em informar e educar sobre problemas ambientais: o folheto "Eu posso fazer isso!", que indica dez formas de contribuir, individualmente, de forma fácil e eficaz, para manter Victoria1 limpa e verde:
  


" Eu Posso fazer isso! "


  1. Reciclar (existe já um sistema organizado de recolha de jornais, papelão, vidro, alumínio e recipientes de plástico);
  2. Reduzir desperdícios e aproveitar os de origem orgânica (nomeadamente usando alguns como fertilizantes do solo);
  3. Deitar fora o lixo de forma adequada (uso dos contentores e locais adequados);
  4. Poupar energia (por exemplo evitando o sobre-aquecimento e sobre-arrefecimento das casas e lojas);
  5. Ter cuidado com o manuseamento de produtos químicos e gasolina;
  6. Usar económica e racionalmente os carros particulares;
  7. Usar cuidadosamente a água;
  8. Vigiar os animais de estimação, para não se tornarem "de contaminação";
  9. Tornar-se voluntário (referindo-se a participação nos "dias de limpeza", em festivais de plantação de árvores nativas, em grupos de protecção dos parques naturais, construção de trilhos, no trabalho em centros de informação ou como guias...);
  10. Por último... apreciar e gozar os espaços verdes disponíveis (2 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 65% da população de Victoria, visitam um parque natural, pelo menos uma vez por ano).
  

Campanhas de limpeza


  Na Austrália, uma das formas mais populares de cuidar do ambiente, é a operação anual "Vamos Limpar a Austrália" "Cleaning Up Australia", já na nona edição, que se realiza sempre no fim do Verão, no primeiro domingo do mês de Março.
  Nesse dia, pude constatar pessoalmente o entusiasmo com que muitas pessoas recolhiam lixo nas praias da costa sul no Estado de Victoria, todas vestidas com T-shirts iguais, funcionando como uma autêntica brigada de limpeza a fundo!
  Para o "Dia da Limpeza" "Clean Up Day", os cidadãos são chamados a participar voluntariamente, precisando apenas de arranjar, por si próprios, um par de luvas! Inscrevem-se em comités regionais, obtendo um conjunto de T-Shirt e chapéu com o logotipo "Clean Up", sacos próprios para recolha de lixo e instruções concretas sobre a distribuição dos locais designados para limpar.
  Assim, de uma forma organizada centralizadamente, mas com uma eficaz coordenação regional e com a indispensável contribuição dos patrocinadores (empresas das mais diversas áreas - banca, indústria, comércio...), consegue-se que milhares de pessoas em todo o país, passem um dia por ano recolhendo lixo de toda a espécie, que fora antes atirado para os mais variados (e por vezes inesperados!) locais.
  


  

No Yarra Bend Park,Jacinta Walker(esquerda)e Helen Szabo(direita)mostram exemplos de lixo recolhido.


  Os resultados globais da operação de 1998 (publicados nos jornais) são surpreendentes:
  · Participantes/voluntários - mais de 5.300 australianos;
  · Toneladas de Lixo recolhido - cerca de 1500.
  Constata-se que, em cada ano que passa, cresce o número de aderentes à campanha. Entretanto, tem vindo a diminuir o volume de lixo recolhido anualmente, o que parece indicar que as permanentes campanhas educativas para "não fazer lixo" estão a ter resultados...
  Curiosidades sobre o lixo (e não só!) recolhido no "Dia da Limpeza":
  · 35 % são matérias plásticas;
  · 9 % são pontas de cigarro;
  ··o lixo proveniente de obras é o pior (os construtores não recolhem os restos de materiais após concluirem as obras - os responsáveis pela Operação "Vamos Limpar a Austrália" tentam sensibilizar o Sindicato dos Construtores a esse respeito...);
  · os mais inesperados frutos de roubos são encontrados pelos voluntários e, sempre que possível, os bens são devolvidos aos propriet*rios: veículos, aparelhagens de som, grades de cerveja, sacos com jóias, carteiras com dinheiro, documentos...
  No geral, ao longo dos últimos anos, constata-se que, cada vez mais, os australianos contribuem voluntariamente em toda a espécie de actividades relacionadas com o ambiente, havendo a consciência quase generalizada de que essa participação se traduz numa melhoria da qualidade de vida.
  A operação "Vamos Limpar o Mundo" "Clean Up The World", começou há cinco anos, como uma espécie de "extensão" da pioneira australiana e tem sido gerida pela organização de "Vamos Limpar a Austrália", em conjugação com o UNEP - United Nations Environment Programme. Milhares de comités organizadores pertencentes a diferentes países (actualmente são mais de cem) registam-se anualmente no "Centro das Operações", em Sydney, onde obtêm os materiais promocionais e o necessário aconselhamento para montarem as suas próprias campanhas, nacionais e locais.
  As campanhas de Educação Ambiental nascidas na Austrália ("Clean Up Day" e "Clean Up the World") são apenas o começo...
  A finalidade é criar uma cultura universal, em que cada pessoa do planeta possa aceder ao conhecimento e à oportunidade de assumir INTEIRA RESPONSABILIDADE PELO AMBIENTE!
  
  *Técnico Superior Assessor da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos.
  1 Note-se que o Estado de Victoria (tendo Melbourne por capital) é o mais pequeno (excluindo a Tansmânia) e simultaneamente o mais densamente povoado da Austrália (18 hab/Km2), sendo simpaticamente apelidado "O Estado Jardim" . Os habitantes deste estado reciclam actualmente 2,2 milhões de toneladas de lixo por ano. Esta quantidade precisará de ser duplicada, no virar do século, se se quiser atingir a meta de reciclagem de 50% dos desperdícios destinados às lixeiras...