Opinião



Ambiente aquático do Rio das Pérolas

Wu Yadi*

  O Estuário do Rio das Pérolas e a área envolvente é uma das zonas mais importantes de tráfego fluvial e marítimo entre Cantão, Hong Kong e Macau, sendo a Bacia do Rio das Pérolas uma rica zona de pesca, de produtos aquáticos e de turismo. Assim, é comum afirmar-se que a zona do Estuário do Rio das Pérolas é o motor do desenvolvimento económico da Região de Cantão, Hong Kong e Macau. Pelo elevado número de portos e pelo intenso tráfego marítimo, são muito frequentes os casos de poluição provocados pela construção de portos de águas profundas e pela exploração petrolífera marítima. Com o crescimento acelerado da economia, a exploração do Estuário do Rio das Pérolas e o brusco aumento demográfico, o volume das águas residuais aí descarregadas tem aumentado a um ritmo preocupante, com repercussões nefastas para o ambiente do estuário e suas zonas envolventes. Urge, pois, envidar esforços no sentido de controlar a poluição do Estuário do Rio das Pérolas e proteger o seu ambiente marinho e ecológico, promovendo um permanente desenvolvimento económico da Região, o qual só poderá ser conseguido pelo esforço conjunto das entidades responsáveis de Cantão, Hong Kong e Macau.
  

Características do ambiente do Estuário do Rio das Pérolas


  
  O Estuário estende-se por cento e cinquenta quilómetros, desde Heizui, Península de Jiulong, a leste, até Eweijian, Península de Chixi do Município de Taishan, a oeste, rodeado por quatrocentos e cinquenta e sete quilómetros de costa. Em termos de protecção ambiental e ao nível do ambiente natural e social, a zona do Estuário do Rio das Pérolas apresenta, nomeadamente, as seguintes características,:
  1.Relevos favoráveis às actividades económicas, mas desfavoráveis à dispersão dos poluentes, de fácil exposição à poluição. Um sem número de ilhas e baías, grandes e pequenas, constituem um abrigo natural, contribuindo para moderar as marés e ondas e criando condições favoráveis aos transportes e à criação de produtos aquáticos. Não obstante, são condições desfavoráveis à dispersão e diluição dos poluentes, uma vez que ao serem lançados para o Estuário, poluem as águas.
  2.Bons recursos naturais e relativamente exigentes quanto à protecção ambiental. É uma das importantes zonas de pesca do país, com boas condições para a criação de produtos aquáticos; possui um milhão de mu 1 de terreno baixo lodoso, fértil, de baixo teor de sal e com abundância de água, sendo muito propício à exploração; possui boas praias e lugares de interesse turístico e recursos petrolíferos. Quando se procede à sua exploração, é necessário envidar esforços redobrados para protecção dos recursos naturais e para o ambiente ecológico da região.
  3.Devido ao acelerado desenvolvimento económico da região, ao grande tráfego marítimo e à concentração demográfica, a indústria e as cidades exercem uma crescente pressão sobre a protecção ambiental, tornando-se cada dia que passa mais pesadas as tarefas assumidas, no sentido da protecção do ambiente aquático do Estuário. Na última década, a economia do Delta do Rio das Pérolas tem crescido a um ritmo superior a dez por cento ao ano e o número de indústrias poluentes tem registado, igualmente, um acréscimo anual. Em Hong Kong, um dos mais movimentados portos do mundo, foram recentemente construídos novos portos, com mais tráfego marítimo, tornando-se a principal fonte de poluição; a urbanização expande-se a um ritmo galopante e aumenta o volume de águas residuais. Consequentemente, é urgente a tomada de medidas para controlo da situação.
  4.As correntes secundárias do Estuário são desfavoráveis à dispersão dos poluentes, o que dificulta os trabalhos de protecção ambiental. Devido à grande largura do Estuário, formando-se correntes secundárias (que correm em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio), de modo que os poluentes lançados no leste do Estuário (nomeadamente por Shenzhen e Hong Kong), em vez de se dirigirem para o alto mar, seguem as correntes secundárias para norte, junto do lado leste, descendo depois para sul, junto do lado oeste, atravessando Zhongshan e Zhuhai, e saindo finalmente para o alto mar. Se for muito grave a poluição proveniente da costa leste, todo o Estuário poderá ficar poluído, havendo necessidade de reforçar o controlo das fontes poluidoras do leste do Estuário.
  5.As correntes fluviais e as marés provocaram o aparecimento de terrenos lodosos no Delta do Rio das Pérolas, criando condições desfavoráveis à navegação e propícias a inundações. No entanto, tem-se registado uma melhoria, após a criação, em 1979, da Comisão de Obras Hidráulicas do Delta do Rio das Pérolas. Em 1983, iniciaram-se obras de ordenamento e de controlo de poluição de grande envergadura, na zona marítima de Modaomen. Estão actualmente em curso, em estreita cooperação com o Território de Macau, estudos e pesquisas para a elaboração de um plano de ordenamento das zonas marítimas de Macau.
  

Situação ambiental do Estuário do Rio das Pérolas


  
  1. Poluição. Estudos e pesquisas já efectuados revelam que, em termos ambientais, a situação é considerada boa, embora certos pontos se encontrem bastante poluídos, como é o caso da Baía de Shenzhen e a da Ilha Verde; a zona de Humen é a pior das oito "portas" do Rio das Pérolas. Os principais poluentes são: o azoto, o fósforo e óleos, que ultrapassam, respectivamente, a primeira, segunda e terceira categoria nacional; o teor de cobre e cádmio é relativamente baixo, estando em conformidade com a primeira categoria internacional, assim como a carência química de oxigénio. Em relação a águas fluviais, os principais poluentes são matéria orgânica e óleos, atingindo, em algumas zonas, a segunda ou terceira categoria nacional.
  2. Tendência da poluição: de acordo com a monitorização efectuada nalgumas zonas, os teores de sais inorgânico, petróleo e matérias orgânicas mantêm-se em alta proporção e tendem agravar-se de ano para ano; a qualidade da água do mar baixou da segunda para a terceira categoria. Esta situação põe em perigo os recursos de pesca marítima e o ambiente ecológico, ameaçando a saúde e a qualidade de vida da população. Os elementos físicos e químicos mantêm-se relativamente estáveis e o nível global dos metais pesados apresenta uma tendência de decréscimo.
  


  3. Problemas ambientais: a poluição do Rio prejudica a pesca. Em meados de Outubro de 1992, a criação piscícola na Baía de Shichong, da Ilha de Wailingding, sofreu um sério revés: cem toneladas de peixe de boa qualidade morreram em apenas dois dias, causando uma perda económica de 13,7 milhões de dólares de Hong Kong. Este incidente deveu-se a um excessivo lançamento de poluentes. Por outro lado, a poluição provocada por óleos expelidos pelos barcos é igualmente preocupante: dois terços da poluição petrolífera deve-se aos barcos, enquanto um terço resulta da poluição industrial. São frequentes "marés vermelhas". Os nutrientes em alto teor devido à decomposição de matérias orgâncias em determinadas condições, nomeadamente, de temperatura, são responsáveis pelo seu aparecimento. Na Baía de Dapeng, uma extensa maré vermelha durou quatro dias, tendo causado a morte de grande quantidade de peixes. É bom salientar que os produtos poluídos pela maré vermelha são venenosos. O Estuário do Rio das Pérolas é uma importante zona aquática, pelo que constitui um ponto de grande atenção governamental a diversos níveis. É, pois, necessária uma grande coordenação, mobilizando toda a sociedade para a protecção do ambiente aquático do Estuário, destacando-se, como medidas essenciais :
  1. A elaboração de um plano de protecção que : defina linhas de orientação do curso das águas do Estuário; reajuste a estrutura industrial das margens do Estuário; elabore através de estudos do fluxo dos diversos afluentes, um plano do controlo global do volume dos poluentes da região, e separadamente, de cada troço; efectue estudos sobre o ambiente das baías e o movimento das águas e resolva o problema do tratamento dos resíduos lançados das margens e racionalize o aproveitamento da zona costeira e marítima;
  2. A elaboração de medidas urgentes para o combate da poluição das zonas marítimas, que vise enfrentar acidentes de poluição petrolífera, terrestres e marítimos.
  3. O aperfeiçoamento de uma rede de controlo do Estuário, reforçando a sua vigilância.
  4. A intensificação de campanhas de sensibilização e de divulgação, elevando a consciência ambiental da população.
  
  *Engenheiro. Subdirector do Departamento de Protecção Ambiental do Delta do Rio das Pérolas.
  1. 15 mµ = hectare