Os resíduos hospitalares
António Gomes da Silva*
O Hospital na sua laboração normal diária é responsável pela produção de diversos tipos de resíduos, lixos hospitalares, com potenciais riscos para a comunidade e ambiente se indevidamente tratados.
Sumariamente há que diferenciar os resíduos resultantes das actividades clínicas e assistenciais dos resíduos que são produzidos por toda a estrutura hoteleira e fabril que o Hospital também é.
Na sua actividade clínica, os Blocos Operatórios, os Laboratórios de Patologia Clínica e Anatomia Patológica, a Imagiologia, os Serviços de Internamento e a Consulta Externa produzem resíduos que impõem especial cuidado no acondicionamento, recolha e tratamento.

Destes resíduos há que salientar:
- objectos cortantes ou perfurantes (lâminas de bisturi, agulhas, etc.);
- resíduos que resultam da preparação e administração de medicamentos utilizados no tratamento de doenças malignas, designados citostáticos;
- resíduos radiológicos que resultam do funcionamento do Serviço de Imagiologia como reagentes, contentores de produtos injectados em doentes, etc.;
- resíduos que resultam da administração de sangue e seus derivados(sacos, sistemas, cateteres venosos, etc);
- resíduos anatómicos que resultam da actividade dos blocos operatório e do Laboratório de Anatomia Patológica, como peças anatómicas, material de biópsia e resíduos de anatomia patológica;
- resíduos resultantes de procedimentos invasivos efectuados aos doentes, tais como angiografias , biópsias percutâneas, etc;
- seringas, algálias, cateteres e sondas utilizadas nos doentes;
-material de penso (compressas, ligaduras, pensos), luvas, batas e aventais de uso único quando conspurcadas com sangue ou outros líquidos orgânicos;
- resíduos que resultam de manipulação de produtos radioactivos utilizados na Medicina Nuclear e Laboratórios;
- gesso, talas e ligaduras que contenham sangue ou outros líquidos orgânicos;
- sacos colectores de fluidos orgânicos;
- todos os resíduos que contenham sangue.
Nesta listagem estão incluídos resíduos predominantemente contaminados havendo no entanto alguns tóxicos, nomeadamente os citostáticos, reagentes e radioisótopos.
Na sua actividade assistencial acrescida pela actividade hoteleira e fabril, são produzidos grandes quantidades de resíduos não contaminados embora alguns poluentes(spray, aerossóis, pilhas).
Destes resíduos há que salientar:
- embalagens vazias de bisnagas, de solutos; caixas de gazes e outros produtos de utilização corrente nas salas de penso, etc;
- invólucros de vários materiais e produtos e ainda papel e manga esterilizada;
- papéis de todo o tipo, incluindo o cartonado;
- restos alimentares e louças descartáveis;
- sistemas de soros e frascos de plástico, que não contenham sangue;
- sprays e aerossóis (anestésicos, pele plástica, desodorizantes), pilhas, etc.;
-resíduos provenientes dos gabinetes médicos, de enfermagem e administrativos, bem como das salas de convívio e reuniões;
- resíduos provenientes das oficinas e centrais de caldeiras;
- resíduos provenientes da lavandaria e alfaiataria;
- resíduos da cozinha na elaboração das dietas.
Os resíduos conforme a sua classificação são recolhidos em dispositivos apropriados que facilmente serão identificados pelo pessoal encarregado da sua recolha e tratamento.
As orientações internacionais apontam para que os resíduos contaminados sejam recolhidos em sacos vermelhos, os resíduos tóxicos sejam recolhidos em sacos amarelos e os resíduos não contaminados em sacos azuis. Por outro lado, resíduos que contenham objectos cortantes e perfurantes (agulhas, lâminas de bisturi, lâminas de barbear, ampolas e frascos ampolas) cateteres e "seldingers" deverão ser recolhidos em contentores especiais de plástico duro que podem ser selados.
À fase de recolha, segue-se o tratamento que habitualmente se processa segundo as orientações seguintes:
- resíduos contaminados incineração a temperatura muito elevada;
- resíduos tóxicos incineração a uma temperatura mínima de 1000ºc;
-resíduos não contaminados tratamento igual aos resíduos normais produzidos pela comunidade.
Por razões ambientais, começam a apontar-se soluções diversas da incineração para o tratamento dos lixos hospitalares. No entanto, nenhuma delas passa pelo abandono num aterro sanitário.
*Médico. Director do Complexo Hospitalar Conde de S. Januário.